quinta-feira, 29 de janeiro de 2009



- Cansei. 
- Do quê?
- Cansei de dormir para descansar.  Agora eu só quero dormir se for para encontrar meus sonhos.


Um comentário:

Anônimo disse...

"Outra vez o sonho do sótão. Eu
deitado numa cama larga olhando um teto de madeira velha,acordado ou meio acordado - um pouco a dormir talvez - quando surge uma visão grande e angular diante de mim; vagarosos lapsos de alegria e pena....e a minha mão esquerda agarrando um livro. Com ferocidade
estou à espera, à espera que alguma coisa aconteça. Antigamente acordava sem sensação alguma; acordava apenas.
Hoje tenho alegria e pena por volta e meia perder o sonho.
Penso:
- poderia eu estar na realidade onde está o que sonho ou vice-versa?

Entre uma pergunta e outra, tento mexer os pés, mas só o direito tem movimento. Ouço abrir e fechar uma porta lá em baixo. Penso:
- se estou num sótão tem de haver um lá em baixo.
-será?
-não.
Há uma lamparina de azeite que se apaga e acende, apaga e acende, apaga e acende. Mas será mesmo apenas isto?
Quero ver a capa do livro, mas o braço também está paralisado.
Não sei o que hei de fazer das minhas sensações.
Outra vez o barulho da porta. -será?
-não.

[hiato]

Senta-se um anjo na cama:
– estás no paraíso......,posso ajudar-te?
repete isto mais algumas muitas vezes:
– estás no paraíso........,posso ajudar-te?
– estás no paraíso........,posso ajudar-te?
– estás no paraíso........,posso ajudar-te?
Eu quero responder, pedir-lhe socorro, dizer-lhe que estou à espera e que a espera nunca acaba, mas tenho medo por não conseguir me mexer na frente daquele que está me dizendo palavras tão lindas. Vejo que o anjo fixa-me nos olhos, dá-me uma festa nos lábios e faz-se pássaro em poucos minutos.
Logo após, o fogo deita pela cabeça e incendeia a cama.
Ela arde, mas não se queima ou queima, mas não arde (já não sei a diferença de cada extremidade).
O pássaro esconde-se depois.

Outra vez a porta
lá em baixo....

Ah, se pudesse limpar a névoa deste sótão com a sua esponja da linguagem, sem precisar descer os degraus do sonho para não despertar os monstros. Sem precisar subir aos sótãos - onde
os deuses, por trás das suas máscaras, ocultam o próprio enigma...
Não descer, não subir, ficar;
neste mistério que é o da vida,
sonho louco que nos circunda...

Frederico Mira George
SAUDADES DE ANTERO"