quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

desassossego demoníaco


[chema madoz]

- pronto: estou obcecada, não consigo pensar em outra coisa.
- ...é o impossível flertando com o possível.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010



[peter wegner]

- Mas você sempre soube que toda coisa é feita de céu.
- ...isso não me impede de me surpreender.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

[Meta-Magritte]


“as yes is to if, love is to yes.”
e.e. cummings, nothing false and possible is love
os sete contra Tebas


- Matei um peixe.
- E depois?
Agradeci. É um alívio não saber matar as estrelas.
Hemingway

terça-feira, 23 de novembro de 2010

 Ela perguntou qual era o plural de "dia-a-dia".
"cotidianos", respondi. E ela, no regozijo muito dentro de quem entendeu a gargalhada do cosmos, repetiu "Cotidianos!".   

domingo, 21 de novembro de 2010

Penso na minha decepção e me lembro, bucólica, de como eu era mais nobre antes, mais humilde.
o tempo me germinou orgulho para combater a ingenuidade insegura.
agora, preciso aprender a percorrer o círculo vicioso, que é prele virar virtude.

pena é que, até lá, já estou num caminho pouco virtuoso: velhice é idealizar a juventude.

sábado, 20 de novembro de 2010

[austin power]

- it's just that I feel stupid and not in the mood.
- part of the courage comes from persistence, honey.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


Para Debora Minuzzo, a música nessa musa.
aquela que, como você, me intrigou; que, como você, eu conheci e não conheci.

Para a agora-estrela.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

e num de novo, os projetos são compridos

[jung yeon min]

é que cismei que queria cortar o cabelo e, na falta de tempo ou propósito, não cortei: problema.
agora passo a mão no cabelo, sinto cheiro do comprido e como pão de frustração.

mas era só cortar o cabelo.
"vou agora, já que é assim"

mas não é assim.  "assim" é como se eu decidisse o irracional, como se eu escolhesse ser gentil com o que me sorri e entediada quando sem sono.

não, não corto o meu cabelo quando quero.  não tenho direito à voz rouca quando quero soar grave.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

[comlumbine goldsmith]

another wicked weekend's gone.
and already all alone all again, I am.



segunda-feira, 1 de novembro de 2010


Num cochilado, sonhei com outra vida

Era ela num escuro da ditadura, com a minha idade, evelhecendo rápido os três anos de porão.  "A dor me fez espezinhar os grãos de imaturidade" diria pra filha muitos anos depois, quando finalmente se percebeu dura demais. 

Mas, naquela hora, olhava para a cadeira que deveria lhe obrigar a delatar os amigos.  Os amigos, tentava se convencer, na verdade se perguntando, continuavam existindo do lado de fora? Os amigos pensados eram tudo o que existia de vida para se lembrar. Todo resto do tempo era medo da dor, que é medo da morte.

Depois disso, muitas coisas pareceram levianas. 

Olhando para a cadeira, queria se convencer de que sairia dali. Mas ameaçou chorar de susto ou saudade, e fechou a cara; dizendo que era bobeira, que não podia.

/corta para festa de apuração: ela olha a bota que segura o pé torcido

Pisca muito e bebe água, sorri com esforço.  Lembrar é dor, mas é também alegria de ver obstáculo pra trás.



[sim, o fim das eleições significa também o fim do recesso de críticas ao PT.  mas, cansado, o discurso como presidente eleita foi  importante e bonito. e a vida torta ganha cores de concretude. é assim que, antes da crítica, me sinto quente de orgulho dessa imperfeição bonita e reconheço a grandeza da vitória]

domingo, 17 de outubro de 2010

" Pai-Mãe, respiração da Vida, Fonte do som, Ação sem palavras, Criador do Cosmos ! 

Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós para que possamos torná-la útil. Ajude-nos a seguir nosso caminho.

Respirando apenas o sentimento que emana de Você. Nosso eu, no mesmo passo, possa estar com o Seu, para que caminhemos como Reis e Rainhas com todas as outras criaturas. 

Que o Seu e o nosso desejo sejam um só, em toda a Luz, assim como em todas as formas, em toda existência individual, assim como em todas as comunidades. Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós, pois assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo. 

Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iluda, e nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento. Não nos deixe sermos tomados pelo esquecimento de que Você é o Poder e a Glória do mundo, a Canção que se renova de tempos em tempos e que a tudo embeleza. Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações. 

Que assim seja."
[Essa é uma versão antiga do Pai Nosso, traduzida direto do aramaico, e não deve ser lida sem vontade.
Está escrita numa pedra branca de mármore, em Jerusalém, no Monte das Oliveiras, na forma como parece ter sido invocada pelo amigo-mestre Jesus. 
O aramaico é um idioma originário da Alta Mesopotâmia, (séc VI ac), e era a língua usual do povo, enquanto o hebraico era mais utilizado em ritos religiosos. Jesus sempre falava ao povo em aramaico.]

terça-feira, 12 de outubro de 2010

I  
todo caos momentâneo
[sam weber]


- A coisa que mais estarrece é o momento da minha vergonha de não ser quem eu pareço. Ou, pelo menos, quem eu sei que gosto de parecer.
- ...que nem o segundo lento-e-curto da quebra, ou o instante do desabamento. é que é quando não dá pra voltar atrás, mas também não acelera logo pra frente.  




when-always, repetition of the same change is everchanging change



[Melinda Gibson]

The not-that-easy "but" is that urging means becoming.

So that the curiousness to see is seeming,
but the seeming itself, is left unseen.

Being is a perceptive construction, then, that does not perceive the constructing.
Otherwise too self-conscious, the wise thing to do is to be conscious about the conscionable.
[which we're only acquainted to.]

"What about the curiosity?" It is to conscionably desire. Is it conscionable, desire?
Always in present, always continous.
[still Melinda, more Gibson]





when-always, repetition of the same change is everchanging change

II  
todo caos momentâneo
[sam weber]


- A coisa que mais estarrece é o momento da minha vergonha de não ser quem eu pareço. Ou, pelo menos, quem eu sei que gosto de parecer.
- ...como o segundo lento-e-curto da quebra, ou o instante do desabamento. é que é quando não dá pra voltar atrás, mas também não acelera logo pra frente.  


terça-feira, 5 de outubro de 2010

É que não tenho um filho.
Então me nino contando a imaginada de como isso seria.
Como é ser atenção de todo cuidado? Ser devoção pelos detalhes, saber urgência de amor que não quer nada em troca?
Quando olho assim, a metalíngua vem me dizer que tem hora e lugar para se saber filho de si.
É que, no profundo, eu sei que me amo, mas é amor de longe, amor de subsistência; coisa que se esquece à tarde.
Mas, na casca, não me amo nem por amor à vida, porque não é por amor de volta. Me amo por amor de ser, sinônimo de fazer.
[jean-luc cornec]

- É que a pergunta não precisa da resposta. Ela é toda desejo incontido, é impulso.
- Ah. Mas... como?

sábado, 2 de outubro de 2010

No incêndio dos sentidos


[minhaline barcelos]

- Como é que você escreve foto das coisas que são por aí?
- É que entre o sim e o não, escolho o que me apetece, sem hesitar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

 Tenho uma pessoa de dois anos que se me alimenta.

E ela diz que não quer terminar o almoço.
e eu respondo que a gente come porque quer viver, que sem comida a gente adoece, e que ficar doente dói.
E pergunto se ela lembra de como dói a dor, e começo a imaginar ela-mesma só que mais crescida, e me olhando com os olhos de quem sabe que isso é coisa da retórica, mas que cumplicia porque sabe que é querer bem.
E continuo e digo que a gente nunca quer dor, porque a dor não deixa ver coisas bonitas, ouvir música, ver desenho ou dançar.
E que ela estraga tudo isso, a dor, mas não porque seja má; e aí vem o sussurro: mas porque ela tem que vir lembrar de que a gente não vive por obrigação.



domingo, 26 de setembro de 2010

querer infundo numa exacerbação, porque a medida humana não é dimensão 

[José Rivas]

- Mas eu não sou o anti-retórico.
- Não, é que a retórica que você quer é tão insaciável, tão amorosa, tão aguda, tão filha de Eros que, na verdade, ela é para persuadir os deuses. Ela é imortal.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

sobre aquilo que só é quando é dentro de quem está olhando


[willy verginer]
- então o discurso não é sabedoria?
- não, mas pode ser antegozo.

sábado, 18 de setembro de 2010




Cheiro de carne queimando, em silêncio. É a minha alma sendo fundada, infunda no limite.

Onde o horizonte é a linha do sol, eu sou, eu sol.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010


[alain delorme]
- Qual é o peso da sobrecarga?
- É não ter intimidade com nada.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

hoje é um dia triste

preciso sair de casa.

sábado, 21 de agosto de 2010



[Benjamin Seeley]


- Por que você me olhava desse jeito?

- Porque não podia.
- Então não pára.
- Aí eu não posso.




sábado, 14 de agosto de 2010


[markus vater]
- Fico achando que a arte é a medida boa do exagero.


- É... do lado de dentro da pele tudo é sempre muito mais forte, então a gente precisa de caricaturas pra ter a medida de se reconhecer.

linhas tortas

[The official manufacturing company]

- Por que você tem sempre que insistir em tentar entender?
- É que, mesmo quando no final das contas eu vejo que só juntei incompetência-incomprisa, acabo sempre vendo outras ainda contas.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

qui et quoi



["car crash studies", de nicolai howalt]


Mais além, muito ao longe, e até o horizonte, há um espaço indeciso, uma imensidão sempre brumosa que bem poderia ser a do mar.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ainda no assunto dos anônimos



- Engraçado, na idade média, se você não fosse nobre, poderia ter algumas poucas coisas, mas liberdade é que não era. E agora parece ser o contrário: liberdade é não ter nome.

- ...é, estamos numa espécie de retorno ao Paraíso da ingenuidade natural.


[o que tinha desencadeado a ira do primeiro criador, no Gênesis, era que
mulher e homem, autores de "outra natureza", criadores de novos jogos, novas leis, perderam o Paraíso - onde permanecem os animais sem discurso - , mas ganharam a nova ordem que constroem com o esforço e o trabalho e que é também liberdade e busca da autodivinização, busca pela identidade]

quinta-feira, 5 de agosto de 2010


- Relationships are all about trust.
- ... even more about control.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

[dessas coisas que chegam muito dentro muito rápido e, ao mesmo tempo, em toda a tranquilidade]

- Pode parecer cruel, mas tem coisas que só funcionam na medida.
- Não, cruéis são as olimpíadas. Pessoas são para ser kairós.

sábado, 31 de julho de 2010

no entremeio da verdade na mentira


[RJ]

- é coisa muito pessoal e precariamente comunicável.
- ...como uma experiência amorosa.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

na hora do pesadelo
entre sono e vigília, a distância da realidade pra ficção



- É que eu tive um sonho rápido quase assim:
a gente poderia estar à mercê de um Deus enganador ou de um malin génie, que nos fariam errar justamente quando temos certeza? e se existe um uma contra-lógica que faz toda lógica universal sem sentido e 2 + 3 não fizerem 5? e se à certeza subjetiva, sustentada pela evidência, não correspondesse uma realidade objetiva, perfazendo a adequação que parece indispensável à verdade? e se essa certeza nos prende em nós mesmos, alucinados? e se o grande erro - suprema malícia - é o homem acreditar no meio-dia da razão que lhe revela objetos inteligíveis, banhados por uma luz puríssima, sem qualquer vestígio de sombra, mas completamente irreais? e se a luz azul linda e brilhante a que nos entregamos, fascinados, é uma máscara irônica e maldosa?

- Fácil, o que importa é o que a gente faz com aquilo de que foi persuadido. Então olha o menu e escolhe qualquer coisa legal pra acreditar.


quarta-feira, 28 de julho de 2010

you gotta have a wider display, honey babe

[saeed salem]


- Não gosto de azeitonas, comemoro empadas sem azeitonas. Então como poderia te oferecer azeitonas? Só dou o meu melhor, é uma questão de generosidade.
- Não, você quis dizer "falta de percepção". Mas o que eu sempre precisei te ouvir é "eu te amo".

clueless cruelness
é, existem azeitonas
[your face]

- É que só gostamos do que, previamente e a partir de si mesmo, dá gosto.
- ...e nos dá gosto em nós à medida que tende pra isso.

terça-feira, 27 de julho de 2010

[giovani castelucci]

- Cheiro uma laranja, separo os gomos e passo um perfume de flores alegres.
- Melhora?
- Na verdade não por causa disso, foi melhorando no momento em que eu decidi fazer alguma coisa pra melhorar.

o pesado é o mal encaixado



 Não, não, só estou de muito mau (h)amor.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

vivendo perigoso-esteticamente
no gozo da imagem

[jane doe]

- Agora deu certo. Você mudou o cenário ou o ânimo do personagem?
- A alma, sempre. o céu que acompanha.
Home is wherever I'm with you
Home is wherever we feel

segunda-feira, 19 de julho de 2010

nos acercamos do irracional por falta ou por excesso,
nunca na sua exatidão


[o realismo a óleo de Alyssa Monks]

- Então o irracional é o que não tem nome?
- Não, é justamente aquilo de que só temos o nome. mas a sua natureza, ele sempre deixa resvalar para só nos dar um rastro de reticências e aproximações.


domingo, 18 de julho de 2010

sobre o vampirismo do artista

[phil silva]

- Olha, o universo coube nessa capa do livro.
- Achei que você só escrevesse sobre si mesma.
- E só. E olha só quanta coisa coube aqui.


sábado, 17 de julho de 2010


- Sufocamento, peito apertado. Acho que estou nervosa.
- erh... não é exatamente novidade a sua preferência pelo peito aberto.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

(tentar) escrever certo em linhas de labirinto


- E, de repente, eu só consigo ver tudo o que importa contra mim. Não consigo me importar com o que está a meu favor. Por quê?
- Não tenho resposta pra isso. Mas eu sei que amanhã a linha faz curva, e o dia re-amanhece.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

amor é invenção dos deuses
e liberdade só é de quem sabe que um dia vai acabar





[josh keyes]

- "Liberdade ou eternidade"?
- É, o amor romântico não pode ser os dois. nem quer.


terça-feira, 6 de julho de 2010

T-S-ELIOT-WAX



- Look, that's quite a good sign. The Hollow Men are melting.
- You fool. Poetry never melts, it metaphors.
Fica.

Peão desarranjado

[Nosso querido Alex, o grande]

- Tenho andado sempre exausta de 8h às 22h, quase sempre na hora extra também.
- Trabalha pra quem?
- Pra mim.
- Ah, você caiu nessa...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ptch
[boris marchand]
Ninguém me habita.

Resvalo pelos declives
onde me esperam, me comem
feiúras que me fascinam,
belezas que me consomem.

sábado, 26 de junho de 2010

[sabine liewald]


- Quando você diz, eu tenho uma pista razoável do que você pensa.
- ...mas eu não digo.
- Aí eu tenho mais trabalho, mas as pistas são melhores.

.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

o início é o horizonte
o final é fora do limite









































[Pamela Reed e Matthew Rader - Modern Prometheus]

- Nem todo dogma é ruim, mas todos são difíceis de reconhecer.
- Então o que você faz?
- Eu tento, que é pra inventar melhor os meus.

domingo, 20 de junho de 2010

imperativo marinha costeira
[julien berthier]

- Você está afundando?
- Acho que sim.
- Você precisa parar de sofrer. Eu tenho medo da quantidade de sofrimento que você consegue aguentar.
- Eu... não consigo deixar de pensar que pode ser que eu seja ser assim. dor é minha criação, e eu não sei viver para não doer.

sábado, 19 de junho de 2010

vírgulavida, Saramago


[aura rosenberg]

- É tudo retrato de água, e de quebranto.
- É, a maior ficção que eu já conheci é o ponto final.


terça-feira, 15 de junho de 2010

querer só pode ser lapidar



[Natascha+Boris]

- ...que nem o tédio de Deus no sétimo dia?
- ... que nem o amigo que sabe qual é o problema, mas não precisa dizer que sabe.
- É, não é bom querer ver tudo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

numa mitologia quase nada nova



[Sean Breithaupt]

- Você que é a Força?
- Prazer.
- Achei que fosse a Perda.
- Eu sou.


[descobri hoje: forte é perder por superabundância; é deixar perder para ter a alegria de conquistar de novo, sempre de um jeito diferente.]


domingo, 6 de junho de 2010

ciclo virtuvicioso


[titus kaphar]

- Um arrepio?
- De novo.
- De quê?
- De repetição.

semente, sê mentira, cê. sê mente. semente vinga? e vinga, é? sê mentira, cê. cê mente? semente me vinga? sê mentira se mentira, ésse. e sê.

mente? se mente ira? sementeira, cê. sê mentira, cê. se mente? se vinga. semente que vinga? sê mente. sê mentira, cê. semente? sê mente que vinga semente, sê mentira, cê.

"sê mente"? semente que vira. que vira? sê mentira, cê. ésse mente? é? semente vinga? sê mentira, cê. e se mente? semente em quê?
é semente? ésse vinga. esse é.

mente vinga? sê mentira, cê. sê mentira, é. ésse mente?; semente vinga?
Me vinga, semente? sê mentira, cê. se mente. esse mente. essa mente?
semente
me vira, é.
é? se vinga. é semente? ésse vinga.
sê.