quinta-feira, 21 de abril de 2011

quando era criança e trabalhava na roça, acontecia dela sentir um poema vindo pelo horizonte. era um trem de ar, relampejando. e, quando ela sentia aproximar, só tinha uma coisa a fazer: correr feito o diabo.  E correndo, perseguindo enquanto era perseguida pelo poema, o que ela precisava era chegar na casa:  pedaço de papel e lápis, rápido, pro poema poder relampejar no escrito.
mas tinham outras inda vezes: ela corria, e caia, e corria, mas o poema passava por ela e continuava até o horizonte, procurando outro poeta.
só que o melhor eram os quase perdidos: ela pegava o lápis no momento depois do justo, quando o poema já passava pra fora. então a outra mão vinha ajudar: pegava o doido pela cauda e puxava do avesso, como fosse, pra volta dela.
aí era que era o curioso: o poema vinha perfeito e intacto, mas da última palavra pra primeira.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"who's watching who?" matters


[jamie beck]

in the ancient struggle of breath against death, one more sleep given.
esquizofrenia dos sentidos


[bailarina horário-anti-horário
[[sem a discussão meio-chata sobre os lados do cérebro]]

Seria fácil e bom, se fosse assim agora.
Seria  bom, já tivesse sido agora?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

prazerinsanto ou "o fim da guerra fria"

[sensa-amado Clovis Trouille]

"Somos herança, meu amor. Alma indivisa de sofrência determinação"
"À completa devoção"

enquanto
 dúvida fresta
 espia à esquerda

terça-feira, 12 de abril de 2011


[sim, estão traduzidas pro inglês, mas são de Minas]

A perfeição era só:
sólidos platônicos
são cinco.

Então o astrônomo
errou, e descobriu:
significa a dualidade.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

uma história da queda lenta

Foi antes o muito amassado no carro,
depois a mancha quase rosa no chão.


Mas só quando o plástico preto que cobria um corpo alto me apareceu do lado
é que o coração apertou.
E o dia foi não dando certo pouco a pouco:
fracassos cotidianos do lado dos tragedilouqüentes.


Mas no bendi das 15h33,
um cachorro morimbundo me apareceu pra mostrar:
não convém ignorar maus agouros.

Foi antes o muito amassado no carro, depois a mancha quase rosa no chão.
Mas só o plástico preto em cima do corpo alto-deitado é que apertou nó o coração.

E o dia foi não dando certo pouco a pouco: fracassos cotidianos do lado dos tragedilouqüentes.

Foi aí que, às 15h33, o cachorro morimbundo apareceu para granjear: não convém ignorar agouros,
não sempre.