sábado, 27 de outubro de 2012

É que a lâmpada estava queimada, a capa da almofada tinha rasgado, os livros estavam amontoados, e até colcha de cama tinha poeira. Mas foi num de repente que isso apareceu.

Lembrei, então, da minha tia Elza, tia-avó dos verões no Farol de São Tomé. Lembrei dela quando percebi alguma vontade de conserto, sabe?

Lembrei da vida longa olhando pra costura, sentada na cadeira de balanço da varanda que olha prum mesmo mar vazio e barrento. Mar que coexiste um pouco fantasticamente com os muitos e enormes pinheiros que costeiam a areia, aliás.

Lembrei, e lembrei das tardes inteiras de mutirão descascador de camarão fresco nessa mesma varanda, no meio de prosa muito boba e tranquila.

Mas lembrei sobretudo, lembrança esta que andava bastante esquecida, do dia em que eu queimei um sanduíche porque estava distraída contando as frutas desenhadas nos azulejos da cozinha, e a minha tia Elza disse, num tom sapiencial muito simples que combina sempre com ela:

ô amorzinho, lembra que só existe pra tudo uma única receita: é ter o maior cuidado na hora de cozinhar.

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