A mudez da minha avó parece fazer bem. Rezo com ela para que seja só uma mudez de casulo, refúgio das seringas e barulhos de máquinas.
Ela se alimenta há uma semana e meia por um tubo que passa pelo nariz e tem uma máscara que sopra um ar forte pra dentro da sua boca.
Ela está magra, mas tem o braço inchado. Um dos seus pulmões se colou só por estar virada de lado enquanto cuidavam da sua úlcera nas costas.
A médica disse que evitaria ao máximo a entubação, mas pergunta a nós se autorizaríamos.
Dizemos que sim.
Mas volto a vê-la (a hora de visita ainda não acabou) para só então entender que eu não sei o que isso significa.
Um tubo passando pela minha garganta para uma máquina regular os meus pulmões, enquanto sou alimentada pelo nariz porque a sonda no meu estômago é inútil enquanto o ácido gástrico continua vazando e corroendo a pele.
Converso com o enfermeiro, com a médica.
Depois vou pra casa tentando abraçar muito o meu avô, brincar com a priminha de 4 anos que o distrai, arrumar o almoço e fingir vida.
Cambaleio pra casa até uma ligação - a ligação médica que pede para confirmar a autorização.
Este é o momento da decisão impossível. Ligo para minha mãe, que não está na cidade, para dizer o impossível.
Falo, falo, falo - estou muda.
Ela se alimenta há uma semana e meia por um tubo que passa pelo nariz e tem uma máscara que sopra um ar forte pra dentro da sua boca.
Ela está magra, mas tem o braço inchado. Um dos seus pulmões se colou só por estar virada de lado enquanto cuidavam da sua úlcera nas costas.
A médica disse que evitaria ao máximo a entubação, mas pergunta a nós se autorizaríamos.
Dizemos que sim.
Mas volto a vê-la (a hora de visita ainda não acabou) para só então entender que eu não sei o que isso significa.
Um tubo passando pela minha garganta para uma máquina regular os meus pulmões, enquanto sou alimentada pelo nariz porque a sonda no meu estômago é inútil enquanto o ácido gástrico continua vazando e corroendo a pele.
Converso com o enfermeiro, com a médica.
Depois vou pra casa tentando abraçar muito o meu avô, brincar com a priminha de 4 anos que o distrai, arrumar o almoço e fingir vida.
Cambaleio pra casa até uma ligação - a ligação médica que pede para confirmar a autorização.
Este é o momento da decisão impossível. Ligo para minha mãe, que não está na cidade, para dizer o impossível.
Falo, falo, falo - estou muda.