domingo, 28 de fevereiro de 2016

A mudez da minha avó parece fazer bem. Rezo com ela para que seja só uma mudez de casulo, refúgio das seringas e barulhos de máquinas.

Ela se alimenta há uma semana e meia por um tubo que passa pelo nariz e tem uma máscara que sopra um ar forte pra dentro da sua boca.

Ela está magra, mas tem o braço inchado. Um dos seus pulmões se colou só por estar virada de lado enquanto cuidavam da sua úlcera nas costas.

A médica disse que evitaria ao máximo a entubação, mas pergunta a nós se autorizaríamos.

Dizemos que sim.

Mas volto a vê-la (a hora de visita ainda não acabou) para só então entender que eu não sei o que isso significa.

Um tubo passando pela minha garganta para uma máquina regular os meus pulmões, enquanto sou alimentada pelo nariz porque a sonda no meu estômago é inútil enquanto o ácido gástrico continua vazando e corroendo a pele.

Converso com o enfermeiro, com a médica.

Depois vou pra casa tentando abraçar muito o meu avô, brincar com a priminha de 4 anos que o distrai, arrumar o almoço e fingir vida.

Cambaleio pra casa até uma ligação - a ligação médica que pede para confirmar a autorização.

Este é o momento da decisão impossível. Ligo para minha mãe, que não está na cidade, para dizer o impossível.

Falo, falo, falo - estou muda.

Um comentário:

Anônimo disse...

There are many of us... :'(
https://vimeo.com/19798355