"1. uma fotografia que alguém tirasse fixando esse exato instante em que me preparo para partir em busca do meu destino, sem saber se um dia conseguirei voltar para rever meus parentes, reverenciar os mortos, saudar os vivos, já antevendo os obstáculos com que vou me deparar até talvez alcançar um ponto em que me torne visível, motivando o orgulho da minha família, captaria a tristeza dos meus olhos nublados, mas não os relâmpagos que incendiam minha cabeça: será a vida isto?, essa sensação de nunca pertencer a lugar nenhum, esse necessário desprendimento da paisagem, das pessoas, dos bichos e das pedras que compõem o cenário da nossa memória, a certeza de ser inútil qualquer esforço em rebelarmo-nos, pois as coisas são o que são, e amanhã, quando acordar, estarei numa cidade estranha, entre gente estranha, aprendendo, a cada nascer do sol, a desmanchar os fios do que fui e a tecer a história do que vou ser, solitariamente emaranhado em lembranças que mantêm meus pés enterrados no passado quando meus braços se arremetem náufragos à frente; (...)"
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