quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Realidade muda
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Como quer Octavio Paz, "la expresión poética es irreductible a la palavra y no obstante sólo la palabra la expresa."

Ou pior, Kafka: "I think we ought to read only the kind of books that wound and stab us. If the book we’re reading doesn’t wake us up with a blow on the head, what are we reading it for? So that it will make us happy, as you write? Good Lord, we would be happy precisely if we had no books, and the kind of books that make us happy are the kind we could write ourselves if we had to. But we need the books that affect us like a disaster, that grieve us deeply, like the death of someone we loved more than ourselves, like being banished into forests far from everyone, like a suicide. A book must be the axe for the frozen sea inside us. That is my belief."

Ou ainda: será que é por causa do realismo fantástico da nossa política que nenhum livro parece machucar mais? E, no entanto, essa necessidade traumatizada do silêncio e da palavra, ao mesmo tempo.


Friedrich Schiller: "Quando a alma fala, já não fala a alma."

Mas, entre nós, Riobaldo, em Grande Sertão: veredas, "Muita coisa importante falta nome"

"Pois a vida é impronunciável", termina (começa?) Clarice.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019



Quem, pelo contrário, ande sempre a mudar de sítio em busca de tranquilidade encontrará sempre motivos de perturbação onde quer que esteja. Houve uma vez um homem que se queixou a Sócrates de nunca ter tirado proveito das suas viagens. "Não admira!" — respondeu o filósofo. "Viajaste sempre na companhia de ti próprio!". Como beneficiariam certas pessoas se conseguissem afastar-se de si mesmas! Na realidade, são elas a causa das suas próprias angústias, cuidados, aflições e receios. De que serve atravessar o mar andando sempre de uma cidade para outra? Se queres escapar aos males que te afligem, precisas de te tornar outro homem, e não de mudar de sítio. Imagina que vais parar a Atenas, a Rodes, ou a qualquer outra cidade à tua escolha. Que importância têm os costumes dessa cidade se tu levas para lá os teus próprios? 

[...at ille qui regioneseligit et otium captat ubique quo distringatur inveniet. Nam Socraten querenticuidam quod nihil sibi peregrinationes profuissent respondisse ferunt, 'non inmerito hoc tibi evenit; tecum enim peregrinabaris'. [8] O quam benecum quibusdam ageretur, si a se aberrarent! Nunc premunt se ipsi, sollicitant, corrumpunt, territant. Quid prodest mare traicere et urbes mutare? si visista quibus urgueris effugere, non aliubi sis oportet sed alius. Puta venissete Athenas, puta Rhodon; elige arbitrio tuo civitatem: quid ad rem pertinetquos illa mores habeat? tuos adferes.]

Séneca, Cartas a Lucílio XVII-III.104.7-8 
Gulbenkian, Lisboa: 2009. (trad.: J. A. Segurado e Campos)