segunda-feira, 1 de novembro de 2010


Num cochilado, sonhei com outra vida

Era ela num escuro da ditadura, com a minha idade, evelhecendo rápido os três anos de porão.  "A dor me fez espezinhar os grãos de imaturidade" diria pra filha muitos anos depois, quando finalmente se percebeu dura demais. 

Mas, naquela hora, olhava para a cadeira que deveria lhe obrigar a delatar os amigos.  Os amigos, tentava se convencer, na verdade se perguntando, continuavam existindo do lado de fora? Os amigos pensados eram tudo o que existia de vida para se lembrar. Todo resto do tempo era medo da dor, que é medo da morte.

Depois disso, muitas coisas pareceram levianas. 

Olhando para a cadeira, queria se convencer de que sairia dali. Mas ameaçou chorar de susto ou saudade, e fechou a cara; dizendo que era bobeira, que não podia.

/corta para festa de apuração: ela olha a bota que segura o pé torcido

Pisca muito e bebe água, sorri com esforço.  Lembrar é dor, mas é também alegria de ver obstáculo pra trás.



[sim, o fim das eleições significa também o fim do recesso de críticas ao PT.  mas, cansado, o discurso como presidente eleita foi  importante e bonito. e a vida torta ganha cores de concretude. é assim que, antes da crítica, me sinto quente de orgulho dessa imperfeição bonita e reconheço a grandeza da vitória]

2 comentários:

Victor Cavalcanti disse...

"sim, o fim das eleições significa também o fim do recesso de críticas ao PT"
Perfeito!
Votei nela, defendi, argumentei, participei.
Sinto-me aliviado do peso do medo. Mas já começo a sentir um novo peso; o da responsabilidade.
Fico feliz, os pesos não nos puxam para baixo, apenas nos atraem na direção do mundo.
Bjos

Na casca de limão disse...

"do nada, nada vem"

... então vamos trabalhar!