quarta-feira, 2 de novembro de 2011

ADIV, PRESENTE DOS DEUSES À CIDADE


A. se deixou ultrapassar, então, depois do relance pelo velho morimbundo e acre. Mas o súbito compenetrou. E foi no olhando para o passos-curtos que viu o espanto do espelho. Abriu a boca e sentiu a membrana vermelha, úmida e morna que exalava dos lábios, como se não contivesse em si todo o múltiplo que carregava. A. não se lembrava de ter um dia estado tão parado, tão sem movimento quanto quando olhando para o velho vagar.

Estático corpo era, ainda, convulsão de sinapses:
aonde ele vai? por onde ele vai? por quê?  quem está lá? como é por lá? lá o quê? todos vamos um dia? qual é o dia? cadê? por qual caminho? é ciclo sozinho? de quê? é igual pro mundo? é mesmo prum só? por quê?  diferente para quem? é nada-ninguém? sem o quê?  escolhe ir ou não? escolhe ir-voltar? escolhe saber? se sabe é pra todos? escolhe por todos? e o quê? 
A. sentiu um movimento vagar pelas pernas. Olhou para baixo: enrugavam-se. Sorriu. Soltou ar da boca:
 acre.

12 comentários:

Anônimo disse...

Retardatário, mas trans-replica o logos inatravessado:

Medo do fim? Longe, bem longe. O fim é axioma: nada além — é certeza, nenhuma dúvida; mas não há tormento aí: niilismo à transcendência impera. Que o atordoa?

...

[ἐξ ἀρχῆς]

Anônimo disse...

Climão Thomas Feiner and Anywhen, "For Now". Vale a ida ao youtube...

Na casca de limão disse...

Gostei de ter visto, A.nônimo, mas, talvez porque esta música apele muito mais tristeza do que eu intentei (Avid não tinha nada de desespero, para mim), não vi a semelhança que você viu. quer falar mais?

Anônimo disse...

Mas o quê? O Sr. diz que não nos entendemos, não apenas uns aos outros, mas cada qual a si mesmo? Qual?! São variações, Sr., são variações: a graça resite precisamente nelas! O Sr. é insistente, e tem um ar grave, para não dizer ranzinza. Mas escute, já que insiste. São variações de um mesmo tema, Sr.! Qual?! Se não temos uma fuga! Escute o tema, Sr., se prefere; mas eu fico com as variações. Se não temos uma fuga!

Anônimo disse...

Vi mal, ou vi demais com os próprios olhos. Conhecer é criar, projetar-se nas coisas. A tristeza evidente q me levou à associação é toda minha e não está no trecho do blog.

O que mais há é a referência ao passar do tempo na letra do T.Feiner. O grupo parece haver acabado, é pena.

Meu ouvido para inglês q não é essas coisas levou-me às interpretações primeiras mais loucas sobre essa letra, o que confirma o 1o. parágrafo... Lembro de ouvir "the sound no one notice, scares you the most..." e em outra parte "make another fool to fall in love" em lugar de det. "resting hour".

Viagens mil, a música está numa trilha de filme alemão bem bacana q tb. vela assistir.

Obrigado pelo trabalho de ler isso. Auf Wiederhören.

Na casca de limão disse...

diga lá qual é o filme.

Auf Wiederlesen!

Anônimo disse...

A.nônimo, efetivamente, valeu a ida ao YouTube. O clima, já melancólico e tristonho, tornou-se ainda mais melancólico e tristonho...

E o que você disse sobre o Tempo...

"O que mais há é a referência ao passar do tempo na letra do T.Feiner. O grupo parece haver acabado, é pena."

...me lembrou as palavras de um certo Velho que conheci.

A.nônimo, nos passa o nome do filme?

Falando em filme, minha variação para o tema: Synecdoche, New York (Charlie Kaufman, 2008).

Anônimo disse...

[Por que da (irritante) moderação nos comentários? Por que tens, ó proprietário do blog, que aprovar os comentários?]

Anônimo disse...

Post-scriptum:

Adiv, presente dos deuses à cidade? Epimeteu, nem tudo que os deuses dão aos homens é bom. Quando vais aprender, hem Epimeteu?

[E na caixa estava o maior dos males: a esperança — o Velho disse, mas Hesíodo disse primeiro.]

Anônimo disse...

Ressalvado algum erro de grafia 'Die Liebe in Gedanken'.
Veja bem, o filminho (ñ é filmão) é bacaninha, nenhum Bergman.
É claro q há coisa melhor por aí. Gosto mais da trilha.
É diferente do que tanto se ouve. E é importante se surpreender depois de um tempo em que a gente só confirma aquilo que gosta...

Anônimo disse...

A propósito de bom filme, difícil de achar, talvez em VHS, é "As melhores intenções" de Bergman.

Na casca de limão disse...

Nosso rei Príamo que o diga (digo "nosso" porque, se nos esforçamos no sermos o mais grego que nos é dado, é porque somos mesmo muito romanos).

Sim, o presente é a espera, espera pela morte? espera pela bem-aventurança após a morte? se tiver tempo ou vontade, releia adiv: o bom presente não é dado.

Bergman, oh, Bergman. Foi ele que me mostrou. Mas também não faz com que não-Bergman seja inencaixe com todos os momentos.

[ἐξ ἀρχῆς]