No vão entre poema e poema, estômago.
É então este, o vazio do tamanho do deus?
Como pão como é o pão:
inteiro, mas cheio de partes.
Mais cheio na falta: ouro falta.
Vazio na sobra: cobre obra.
É então que
poema e poema
vão para cama em engulo da noite,
pois que fundir é engano da fome
(pelo menos)
em parte: ligapartes,
(ruminante)
no todo: como o lobo.
9 comentários:
estou relendo e relendo isto, e achando só maluquice.
mas não tenho coragem de despostar: no fundo eu acho que não é.
de qualquer jeito eu vim aqui me justificar: por quê?
refrão da comunicação, será?
Eu deponho: não se desposta, poema disposto, do seu posto. Per-feito, eu diria, se o próprio de dele não fosse a in-per-facção.
Não espere nada de nós.
É melhor chamar um artista, e rápido...
"in-per-facção"
pois que o próprio do poema é que ele não é completo, ele é vão. nisto eu com ponho.
mas -facção e não -feição, isto diz o que sobre a face do próprio?
talvez o artista a-chamar seja o filólogo, ou quem mais?
estes anônimos sempre me deixam sem graça... mas como no fundo (abismos) sou é sem vergonha, vejamos: "não espere nada de nós". um filólogo seria bom para o "de dele". o fato (há, melhor chamar logo um artista!) é que o que se faz e refaz no poema é corte para o vão, para o face a face.
que labirinto!
antes fiquei um pouco desconfiada com esse papo do chame-o-artista, mas mais porque eu acho que a gente não tenta fazer poema pra ter poema, a gente tenta para descobrir melhor as coisas.
mas, de tão desejado, o artista apareceu sem nem que se precisasse procurar. aqui:
"Nem mármore, nem áureos monumentos
De reis hão de durar mais que esta rima,
E sempre hás de brilhar nestes acentos
Do que na pedra, pois o tempo a lima.
Pode a estátua na guerra ser tombada
E a cantaria o vil motim destrua;
Nem fogo ou Marte apagará com a espada
Vivo registro da memória tua.
Há de seguir teu passo sobranceiro
Vencendo a Morte e as legiões do olvido.
E os pósteros, no juízo derradeiro,
Hão de a este louvor prestar ouvido.
Pois até a sentença que levantes,
Vives aqui e no lábio dos amantes.
Not marble, nor the gilded monuments
Of princes, shall outlive this powerful rime;
But you shall shine more bright in the contents
Than unswept stone, besmear'd with sluttish time.
When wasteful war shall statues overturn,
And broils root out the work of masonry,
Nor Mars his sword nor war's quick fire shall burn
The living record of your memory.
'Gainst death and all-oblivious enmity
Shall you pace forth; your praise shall still find room
Even in the eyes of all posterity
That wear this world out to the ending doom.
So, till the judgment that yourself arise,
You live in this, and dwell in lovers' eyes"
Soneto LV - Shakespeare, W. Tradução Ivan Barroso.
No justaposto com o sr. elizabetano, fiquei achando que o poema tem (pelo menos) algum dom do tempo.
e aí dizer "o que se faz e refaz no poema é corte para o vão, para o face a face", diz também que o poema aparece e continua aparecendo depois do vão das horas, faces depois de faces que de outro modo nunca se encontrariam, porque são facetas do que pessoas em tempos diferentes podem comungar.
mas o tempo é único desses vãos? o poema serve só para "congelar" um momento e preservá-lo no vão cronológico?
fico achando que não.
ou: me ajudem aí, se aprouverem.
[=
se entendo, acho bela a ideia do tempo como corte crônico, e o poema sincronia... mas também não, não é só. secção (sexo), o diá do diálogo, diabo (legião): kháos em que comungam faces. e, como diz a casca, os poemas também precisam ir à cama se querem experimentar no vão o encontro impossível. ou não, mesmo nada disso - diria o outro.
apraz. mas ajudar, nem.
apraz
(=
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