sábado, 23 de novembro de 2019

Epílogo (precoce)

Era uma conversa na cama sobre o suicídio de alguém com quem ela trabalhou, sobre os traumas acumulados de uma cultura que pede sentido, e cobra quando é novembro e neva em Paris.
Cobra porque o metro está cheio, e o casaco está molhado, e o céu cinza já vira noite às 17h30.
Como sempre, a questão é o desejo. Num dia cinzento, em crise de abstinência do desejo, irresistível é a pergunta sobre o sentido.

Mas quando estamos embaixo do edredom vermelho, quando estamos protegidas pela janela de vidro que isola o quarto, quando estamos coladas depois de tanto tempo confuso, outro do irresistível aparece: il est pas question de sens, la vie. C'est comme demander quelle est la couleur du temps. La vie est le nom de l'expérience, toute autre exigence vient de la fiction raconté par la culture.
La vie n'est ni bonne ni mauvaise, elle est par soi-même le seul but.

Et, pourtant, il est beaucoup plus facile d'oublier la question du sens quand il fait beau.

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