era chuvinha fina com sol, invisível até, mas bem sentida porque também ventada.
e eu ali embaixo, de alma pesada e coração travado, na seca de quem não olha pra cima.
acontece que é esta a retórica das nuvens: chamar atenção pro céu.
e, em coisa de momento ou dois, as gotas me acupunturaram o coração.
só isso e pronto, o caminho é como sempre foi:
vou indo pra frente e, quando estiver começando a me sentir em casa, volto pra casa.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
vertigem.
de novo o medo da encenação arriscada.
de repente surgem umas palavras bonitas, talvez bonitas demais, tudo como se dizer grandiosidade fosse objeto comprado com preço. e vale? se valeu não sei mais. lembro de querer muito que valesse. mas trapezista que só sabe lembrar ter acreditado em trapézio cai. e trapezista assim é entre aspas.
aporia.
de novo o medo da encenação arriscada.
de repente surgem umas palavras bonitas, talvez bonitas demais, tudo como se dizer grandiosidade fosse objeto comprado com preço. e vale? se valeu não sei mais. lembro de querer muito que valesse. mas trapezista que só sabe lembrar ter acreditado em trapézio cai. e trapezista assim é entre aspas.
aporia.
domingo, 27 de maio de 2012
três enquadramentos para única ordem
[Barbara Probst]
Teofrasto não tem rosto, desconhece a própria idade, é condescendente e tem necessidade de agradar. É gente de inspirações súbitas, conversa com a natureza e com os demônios do mundo, tenta provocar o aparecimento de estigmas na palma da mão esquerda, é tão sensível que não suporta o contato com a própria roupa. Não é construtivo nem destrutivo, é como se fosse uma antena.
Frederico é paciente e bom, não usa óculos, mas vê, porque tem sentido de responsabilidade e de conjunto. Sua função é andar pra frente, mas sempre só consegue se anda junto com Téo e Sebastião que, no entanto, parecem puxá-lo pra trás.
Os três nem pensam que seria possível libertarem-se: são compassos ternários em improviso.
domingo, 6 de maio de 2012
Orlando tinha rosto esquisito: angular, afiado, e belos olhos pretos e indiferentes.
Onde estão os olhos de Orlando?, você perguntaria, se tentasse Orlando-olhar.
Estão no mar., você, juro, responderia, depois de ver Orlando-mar.
É que Orlando não tinha olhos para ver mundo e, no entanto, não morava nem pouco longe do mar.
Orlando, por isso - e nisso não havia outro jeito-, se sabia só.
Só, só olhando o mar.
Mas que mar?, outro você perguntaria.
O único céu em que sabemos mergulhar., você, juro, respondeu ao acordar.
[Gerard Vilardaga]
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Orlando: olho que só vê quando emana luz
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