A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
é que te entendo quando vc vê eternidade em toda beleza.
mas não é justo a incompletude que faz que a gente nunca descanse em uma "beleza" só?
ou ainda: ver beleza como o drummond vê a verdade; seja: a cada minuto olhando pra Vênus, vê-se uma metade (um perfil?, um sinal?) que não encaixa com aquela do minuto seguinte.
e assim começa e termina o dia: em coisa de beleza, não é a falta de sombras que determina o mais belo.
Foi puro sarcasmo nominalista.Eu mesmo concordo contigo. Nada sincera a parmenídica/"pratônica" provocação. Não ando acreditando nela. Mas era tão óbvia, não resisto aos clichês.
Tb. tive meu meio-dia com uma improvável Vênus, q se diz "vagina viril". Embora tudo indicasse sua insinceridade, ocorreu-me q de fato praticasse o "Ahad" q parei de me repetir. E isso impediu-me de tentar beijá-la, e evitou alguns sérios constrangimentos entre amigos q se aproximam. Ocorreu-me ainda q tb. ela se repetisse, ou q se repetisse como enganoso padrão de outros episódios.
Semana seguinte, nada mais de pupilas abertas, ouvidos atentos. Será q haverá outro meio-dia? Será q Ela existiu?
A arte não é menor justamente por não ser instrumentalizável em argumento. Ela é o recanto da forma. Mas usar o argumento tentando, em ares formais, fazer alguma adequação que transforme em arte o argumento sobre ela mesma é só desmerecê-la.
não sei se entendi, veja se a sua hipótese é esta:
falar em termos imagéticos (poéticos?, artísticos? já aqui, acho que estamos forçando um pouco a barra, mas tudo bem) o que, secretamente, é um argumento (qual argumento?) é um desmerecimento à arte.
o queria entender logo é o que é que vc chama de "argumento", "argumento sobre ela mesma".
você está dizendo que o que eu fiz era uma crítica? crítica de arte, talvez? ou discurso imagético de tese, será?
já de cara, não está muito clara para mim qual é a crítica em questão.
mas, além disto, quanto à sua subhipótese mesma do desmerecimento da arte quando "metadita", queria que vc me mostrasse qual é ele.
se esta parte eu entendi bem, no geral, acredito bem no contrário: a crítica de arte só faz o que ela deveria fazer (seja: discutir com alguma obra) quando é dita em forma adequada; o que, no geral para mim, não é na forma impessoal monografada (tenha aristóteles como possível exceção; mas ele não é, afinal, o artista-criador do discurso monografado? além disto, nem tão impessoal assim).
e, como exemplo a gente pega nos grandes, quando eu digo "arte como crítica de arte", acho a expressão bem cafona, mas penso na conversa do machado de assis com o alencar; na do sousândrade com o gonçalves dias; na da comédia com a tragédia; na do Platão com toda a tradição poética; e por aí vai.
Aliás, não resisto a uma provocação. Aliás, contraprovocação.
Quem, diga lá, quem primeiro foi ao deserto clamar a voz de um árido campesino, atiçando-o com o veneno da sibila? — O veneno, santo remédio — —
E que seja bem melhor! E se não for, não merece ser devorado. Só me interessa o que não é meu: outro que não eu.
Mas quem sou eu?, inquire uma voz do deserto. Voz de tolo, voz de bobo. Eu não sou; sou outros eus, tornados meus — devorados, mastigados. Outros, que sou. Sou Alter, por batismo, eis meu nome.
15 comentários:
Discordo:
É perene, e pousa em cada idílio.
Em tempo: obrigado.
VERDADE
Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
é que te entendo quando vc vê eternidade em toda beleza.
mas não é justo a incompletude que faz que a gente nunca descanse em uma "beleza" só?
ou ainda: ver beleza como o drummond vê a verdade; seja: a cada minuto olhando pra Vênus, vê-se uma metade (um perfil?, um sinal?) que não encaixa com aquela do minuto seguinte.
e assim começa e termina o dia: em coisa de beleza, não é a falta de sombras que determina o mais belo.
Foi puro sarcasmo nominalista.Eu mesmo concordo contigo.
Nada sincera a parmenídica/"pratônica" provocação.
Não ando acreditando nela. Mas era tão óbvia, não resisto aos clichês.
Tb. tive meu meio-dia com uma improvável Vênus, q se diz "vagina viril".
Embora tudo indicasse sua insinceridade, ocorreu-me q de fato praticasse o "Ahad" q parei de me repetir.
E isso impediu-me de tentar beijá-la, e evitou alguns sérios constrangimentos entre amigos q se aproximam.
Ocorreu-me ainda q tb. ela se repetisse, ou q se repetisse como enganoso padrão de outros episódios.
Semana seguinte, nada mais de pupilas abertas, ouvidos atentos.
Será q haverá outro meio-dia?
Será q Ela existiu?
Ahad?
Uno.
Jacaré entendeu? eu também não...
Ser coerente, não fragmentário, e assim Uno.
A arte não é menor justamente por não ser instrumentalizável em argumento. Ela é o recanto da forma. Mas usar o argumento tentando, em ares formais, fazer alguma adequação que transforme em arte o argumento sobre ela mesma é só desmerecê-la.
que labirinto!
não sei se entendi, veja se a sua hipótese é esta:
falar em termos imagéticos (poéticos?, artísticos? já aqui, acho que estamos forçando um pouco a barra, mas tudo bem) o que, secretamente, é um argumento (qual argumento?) é um desmerecimento à arte.
o queria entender logo é o que é que vc chama de "argumento", "argumento sobre ela mesma".
você está dizendo que o que eu fiz era uma crítica? crítica de arte, talvez? ou discurso imagético de tese, será?
já de cara, não está muito clara para mim qual é a crítica em questão.
mas, além disto, quanto à sua subhipótese mesma do desmerecimento da arte quando "metadita", queria que vc me mostrasse qual é ele.
se esta parte eu entendi bem, no geral, acredito bem no contrário: a crítica de arte só faz o que ela deveria fazer (seja: discutir com alguma obra) quando é dita em forma adequada; o que, no geral para mim, não é na forma impessoal monografada (tenha aristóteles como possível exceção; mas ele não é, afinal, o artista-criador do discurso monografado? além disto, nem tão impessoal assim).
e, como exemplo a gente pega nos grandes, quando eu digo "arte como crítica de arte", acho a expressão bem cafona, mas penso na conversa do machado de assis com o alencar; na do sousândrade com o gonçalves dias; na da comédia com a tragédia; na do Platão com toda a tradição poética; e por aí vai.
É preciso ainda que meu alter ego perceba que entre osargumentos há histórias contadas...
E sem argumentos calo-me. "Language is leaving me in silence"...
E calado, retorna a paz ao vosso exótico reino.
Casca, por aqui
"Tá tudo tão quieto,
Tá tudo tão parado."
Faz-se tempo que nada leio, nada vejo, nada ouço.
Então, fez-se mote ao meu mote.
Vai pois assim o PING ao seu PONG. Ou seria o PONG ao seu PING? Vá saber. PING PONG.
http://silencioemmovimento.wordpress.com/2012/09/18/descascando/
Vocês me lembraram um poema escrito num prato de isopor por um prisioneiro na Baía de Guantánamo, que diz assim:
"Paz, eles dizem, paz de que espécie?
Eles prendem, matam e acabam.
Eles lutam pela paz"
[só lembrado mesmo pra dizer que quietude não é paz]
Lembro? Mesmo?
De sorte que nunca lutei pela paz...
Aliás, não resisto a uma provocação. Aliás, contraprovocação.
Quem, diga lá, quem primeiro foi ao deserto clamar a voz de um árido campesino, atiçando-o com o veneno da sibila? — O veneno, santo remédio — —
E que seja bem melhor! E se não for, não merece ser devorado. Só me interessa o que não é meu: outro que não eu.
Mas quem sou eu?, inquire uma voz do deserto. Voz de tolo, voz de bobo. Eu não sou; sou outros eus, tornados meus — devorados, mastigados. Outros, que sou. Sou Alter, por batismo, eis meu nome.
E o que se faz com comida podre? — — —
Ah, o desprezo, o velho desprezo... Déjà-vu?
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