sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O meio-dia da Vênus

[Isabel M Martinez]

barulho de onda
areia seca e olhos fechados

é errante a beleza,
não é do sol ser coisa que se possa olhar de frente

12:01

15 comentários:

Anônimo disse...

Discordo:
É perene, e pousa em cada idílio.

Em tempo: obrigado.

Na casca de limão disse...

VERDADE
Carlos Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Na casca de limão disse...

é que te entendo quando vc vê eternidade em toda beleza.

mas não é justo a incompletude que faz que a gente nunca descanse em uma "beleza" só?

ou ainda: ver beleza como o drummond vê a verdade; seja: a cada minuto olhando pra Vênus, vê-se uma metade (um perfil?, um sinal?) que não encaixa com aquela do minuto seguinte.

e assim começa e termina o dia: em coisa de beleza, não é a falta de sombras que determina o mais belo.

Anônimo disse...

Foi puro sarcasmo nominalista.Eu mesmo concordo contigo.
Nada sincera a parmenídica/"pratônica" provocação.
Não ando acreditando nela. Mas era tão óbvia, não resisto aos clichês.

Tb. tive meu meio-dia com uma improvável Vênus, q se diz "vagina viril".
Embora tudo indicasse sua insinceridade, ocorreu-me q de fato praticasse o "Ahad" q parei de me repetir.
E isso impediu-me de tentar beijá-la, e evitou alguns sérios constrangimentos entre amigos q se aproximam.
Ocorreu-me ainda q tb. ela se repetisse, ou q se repetisse como enganoso padrão de outros episódios.

Semana seguinte, nada mais de pupilas abertas, ouvidos atentos.
Será q haverá outro meio-dia?
Será q Ela existiu?

Na casca de limão disse...

Ahad?

Anônimo disse...

Uno.

Na casca de limão disse...

Jacaré entendeu? eu também não...

Anônimo disse...

Ser coerente, não fragmentário, e assim Uno.

Anônimo disse...

A arte não é menor justamente por não ser instrumentalizável em argumento. Ela é o recanto da forma. Mas usar o argumento tentando, em ares formais, fazer alguma adequação que transforme em arte o argumento sobre ela mesma é só desmerecê-la.

Na casca de limão disse...

que labirinto!

não sei se entendi, veja se a sua hipótese é esta:

falar em termos imagéticos (poéticos?, artísticos? já aqui, acho que estamos forçando um pouco a barra, mas tudo bem) o que, secretamente, é um argumento (qual argumento?) é um desmerecimento à arte.

o queria entender logo é o que é que vc chama de "argumento", "argumento sobre ela mesma".

você está dizendo que o que eu fiz era uma crítica? crítica de arte, talvez? ou discurso imagético de tese, será?

já de cara, não está muito clara para mim qual é a crítica em questão.

Na casca de limão disse...

mas, além disto, quanto à sua subhipótese mesma do desmerecimento da arte quando "metadita", queria que vc me mostrasse qual é ele.

se esta parte eu entendi bem, no geral, acredito bem no contrário: a crítica de arte só faz o que ela deveria fazer (seja: discutir com alguma obra) quando é dita em forma adequada; o que, no geral para mim, não é na forma impessoal monografada (tenha aristóteles como possível exceção; mas ele não é, afinal, o artista-criador do discurso monografado? além disto, nem tão impessoal assim).

e, como exemplo a gente pega nos grandes, quando eu digo "arte como crítica de arte", acho a expressão bem cafona, mas penso na conversa do machado de assis com o alencar; na do sousândrade com o gonçalves dias; na da comédia com a tragédia; na do Platão com toda a tradição poética; e por aí vai.

Anônimo disse...

É preciso ainda que meu alter ego perceba que entre osargumentos há histórias contadas...

E sem argumentos calo-me. "Language is leaving me in silence"...

E calado, retorna a paz ao vosso exótico reino.

Anônimo disse...

Casca, por aqui

"Tá tudo tão quieto,
Tá tudo tão parado."

Faz-se tempo que nada leio, nada vejo, nada ouço.

Então, fez-se mote ao meu mote.
Vai pois assim o PING ao seu PONG. Ou seria o PONG ao seu PING? Vá saber. PING PONG.

http://silencioemmovimento.wordpress.com/2012/09/18/descascando/

Na casca de limão disse...

Vocês me lembraram um poema escrito num prato de isopor por um prisioneiro na Baía de Guantánamo, que diz assim:

"Paz, eles dizem, paz de que espécie?
Eles prendem, matam e acabam.
Eles lutam pela paz"

[só lembrado mesmo pra dizer que quietude não é paz]

Anônimo disse...

Lembro? Mesmo?

De sorte que nunca lutei pela paz...

Aliás, não resisto a uma provocação. Aliás, contraprovocação.

Quem, diga lá, quem primeiro foi ao deserto clamar a voz de um árido campesino, atiçando-o com o veneno da sibila? — O veneno, santo remédio — —

E que seja bem melhor! E se não for, não merece ser devorado. Só me interessa o que não é meu: outro que não eu.

Mas quem sou eu?, inquire uma voz do deserto. Voz de tolo, voz de bobo. Eu não sou; sou outros eus, tornados meus — devorados, mastigados. Outros, que sou. Sou Alter, por batismo, eis meu nome.

E o que se faz com comida podre? — — —

Ah, o desprezo, o velho desprezo... Déjà-vu?