segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


- Perdeu sua identidade?
- Ficou por aí, pela cidade.  Um dia eu encontro, se tiver sorte ou vontade...

[Perdi mesmo o meu pedacinho de papel verde que tem o RG estampado. 
Se alguém encontrar,  vai ver minha foto 3x4]

domingo, 28 de dezembro de 2008


- E aí, como você ficou?  
- Ah, tudo bem, ué.
- Ai, queria tanto que você mudasse as cores do seu "blablabla",  essas aí são as que o meu pincel mais conhece...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Adequação



- Queria descobrir por que é que a gente insiste em entrar no bando achando que alguém lá na frente sabe para onde está levando o resto...  Poxa, se é para não chegar a lugar nenhum, é melhor pensar por conta própria.

- ... ou se é para não chegar a lugar nenhum, é melhor não ter trabalho.   É que a certeza é sempre mais confortável do que a dúvida.  


Adequação


- Às vezes eu queria conseguir me aproximar das pessoas.

- Às vezes é melhor assim. Se você conseguisse ser do jeito como várias pessoas já são, veria o mundo exatamente como elas;  e quando a prioridade é tentar se adequar é mais difícil se entender.

- É, mas às vezes eu me convenço de que isso é só uma desculpa. Às vezes eu quero um caco de vidro encharcado de leptospirose no meu pé descalço no meio da enchente.  Lembra?  "A certeza é sempre mais confortável do que a dúvida."



segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Semana de prova[ções]


- De férias?
- Hum... quase, a minha prova mais difícil é hoje.
- Ué, então por que você não tá enfurnada nos livros?
- Isso eu já fiz, mas não vale colar. Eu preciso encontrar uma resposta que seja minha.

I
a vida cansada de quem foge

[Marc Johns]

- Estranho como é difícil fugir de quem você é...
- Uhum... Acho que, ou cada um procura descobrir quem é logo, ou fica o tempo todo correndo, sem nem saber do quê.


II

a vida confusa de quem vive ilhado na edição


- Pois é, a gente passa a vida cortando e colando imagens do que imagina que sejam as pessoas com quem vive, convive e acha que sabe como reagiriam às circunstâncias normais.

- Mas cada um faz isso tentando montar a sua própria imagem também, não faz?

- Faz sim, (ou tenta fazer).  O negócio é que a nossa imagem de nós mesmo é muito mais volátil, ela está sujeita a todos os nossos pensamentos, 24h por dia, então na hora de montar o quebra-cabeças de nós mesmos, a gente se perde na edição.

- Ih... então acho que a solução seria que cada um se ouvisse com um pouquinho menos de freqüência.

III
as muitas vidas de quem procura quem é 


- O que você quer dizer com isso?

- ...que o bonito das histórias é que elas deixam a gente sair da nossa vida para viver pelas sensações de outras pessoas, e... você sabe, né?  as sensações nunca são fictícias.


domingo, 7 de dezembro de 2008

IV
A vida sem sensações de quem se perde nos excessos



- Mas que coisa estranha essa de que você precisa ir procurar no outro aquilo que você mesmo é...

- É, para isso eu só tenho um palpite: a gente não vê o simples porque presta atenção demais na sombra que a borracha esqueceu de apagar do desenho..


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008


[banksy]

- Qu'est-ce que tu veux faire ici... dans ce bout du monde.
- ...tout ce que je fais toujours: connaître le but du monde.


tempos de crise

[Alessandro Bavari]

- Aiai... a minha cabeça está em pé de guerra.
- Pelo menos ainda está em pé...

tempos de crise
[Bettina Rheims]

- É que eu tenho tido problemas para dormir.
- Claro, está tudo de cabeça para baixo...

no pain no gain



- I guess your problem is that you obey too much.
- I obey?? To what?
- To your reason, you dumb ass. The last time you tried you were much too worried about not getting hurt (and ended up destroyed into pieces for all of the wrong reasons).

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Às vezes a atenção é a sombra do desleixo.

 [Alexey Titarenko]


- Nossa, sempre me assusto quando o metrô me faz perceber como tem gente nessa cidade...  

- É... a minha vantagem é que eu sou muito distraída, então consigo só ver as pessoas quando eu já sei quem elas são.


A insensatez que você fez na areia




- E quem disse que os momentos são só fugazes?

- Não sei... só sei que alguém me convenceu disso.

- ...então você nunca teve um que virou a sua vida de cabeça para baixo [e que volta para virar de novo toda vez que você acha que está tudo bem inerte e nos conformes].



quarta-feira, 3 de dezembro de 2008




- Eu não entendo por que tem gente que insiste em tentar colocar as questões éticas no cotidiano das pessoas normais.  Eu não conheço ninguém que tenha que escolher se vai torturar um terrorista ou não, sabe...?

- ...é, mas você precisa ir ao supermercado.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O entrelugar do ruído - I



- Como é que se faz para conseguir um visto para a cabeça de alguém, hein...?
- Acho que esses sistemas alfandegários são meio complicados...  Mas ajuda se você falar a língua dela.


O entrelugar do ruído - II



- Como assim? Que língua?
- É que eu acho que cada pessoa entende o mundo a partir das suas próprias grades de comunicação.  E, se ninguém tenta aprender como ela responde às coisas do mundo e nem ela tenta aprender a falar a língua de outra pessoa, acaba presa.
- ... presa nela mesma.

A _ _ _ _ _ _ _ é cega  [e nem assim vê o essencial]




- Camisinha.
- Sou contra.
- Aborto.
- Sou contra.
- Chocolate em forma de menino Jesus.
- Sou contra.
- Liberdade de pensamento.
- Sou contr... opa, a favor.


Tem tantas coisas cegas com sete letras...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008



Fiapos [impagáveis] de beijos

Somos catadores de lixo

[Christina T]


- Queria saber por que é mesmo que a gente se escraviza às novidades...  Uma padaria legal com o letreiro novo, "que legal", uma festa ótima com óculos néon, "que ótimo", uma embalagem diferente para chá verde, "que diferente"...

- Ahm... é, vai ver a gente procura nas coisas o que não consegue fazer com a gente mesmo. Vai ver a gente muda o mais fácil porque não gosta de ver que não consegue mudar o que está soterrado pelas novidades.

domingo, 30 de novembro de 2008



[Natasha Shaloshvili]

- Posso te contar um segredo?
- Uhum.
- Encontrei alguém que me faz sentir azul por dentro.





[Natasha Shaloshvili]


- É quem eu acho que é?
- Cada coisa no seu tempo, doce.

[Foto: Aaron Goodman]

- Será que existe isso mesmo?  Alguém fazer o que gosta?
- Hum... acho que você não quer saber o que acabou de perguntar.
- O que eu quero saber?
- O motivo por que as pessoas acham que gostam do que fazem.

sábado, 29 de novembro de 2008


[viagem]


-  Sabe aquelas semanas que foram só alguns dias, mas que valeram para você como se fossem uma rotina nova?
- Uhum.  Agora voltar para casa assusta?
- Não, mas voltar para quem eu era...

domingo, 23 de novembro de 2008


- Então você vai viajar? Como estão as malas?
- Vazias, por puro desleixo.
- E você?
- Vazia, por puro desleixo.


- O negócio é que os sonhos são meio traiçoeiros, nunca acontecem, na realidade.
- É, mas às vezes eu gosto de acreditar que a minha realidade só é real naquele momentinho em eu estou tendo o meu sonho.

A queda de Denis que não machuca porque ele sabe como cair


Denis Darzacq  me disse, meio enervado, uma vez, "Na França alguém poderia cair do céu e ninguém na rua se importaria." e eu concordei com a minha melhor expressão de revolta com uma sociedade tão desinteressada pelo que realmente interessa, mas, secretamente, eu queria entender por que importava tanto que as pessoas se importassem.




o irmão menos querido nunca se conforma com meio biscoito



- Todo mundo pega o meio de transporte mais rápido, almoça em fast-foods, resolve os problemas familiares pelo telefone... tudo para economizar tempo.  
- Tempo... para chegar em casa e ter tempo de perder tempo.



o irmão mais querido não sabe o que fazer com o biscoito inteiro
[então come só porque é a coisa mais óbvia a se fazer]

[][][][] / "Sigur ros - Gong" / Eric Lerner from Eric Lerner on Vimeo.


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

The L word is such a pretty illusion.

[Concentre-se alguns segundos no ponto preto do centro.]

[as cores à volta do ponto do centro começam a desaparecer.]



- Told you, once you find your point, everything else disappears.

- ...or just seem to disappear, and come back later on.



The L word is such a pretty illusion.


- Yeah, life is pointless.
- No, it isn't.  The problem is that the points are only inside your mind.


Botando a conversa em dia com Alberto Caeiro 


- Então o menino Jesus fugiu do céu para morar na sua casa?
- Uhum.  Se você quiser a gente senta num bar e eu conto a história toda. Você nem precisa acreditar, mas ela é tão verdadeira quanto tudo que os filósofos pensam e as religiões ensinam.


[Quando não é bom quando "agora" vale para sempre]


- Tão pouco para dizer, e tanto tempo.

- Ahm... Não sei o que dizer, agora.  





A ir por aí...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


You only live twice,
Or so it seems.
One life for yourself,
And one for your dreams.




- Por que você tá tentando apagar o fogo com gasolina?
- Ahm, parece estúpido... mas achei que estivesse ajudando.


Arrepio



- Ai, que droga, eu tava me sentindo tão bem... veio uma frase mal-intencionada e me destrinchou.
- É que quanto mais aquecidos estamos, mais sentimos o frio, quando ele chega.






- Por que você acha que os meus erros são mais graves do que os seus?
- Porque eu estou julgando.  E a imparcialidade sempre acaba me machucando...


segunda-feira, 17 de novembro de 2008



- Não, querida, você não precisa ter medo do escuro... Essas histórinhas só servem para aumentar o mistério, mas não vai acontecer nada de ruim para você.

- Ahm, entendi.     ...então deve ser por isso que as pessoas têm medo da morte, né?  porque elas acreditam nas historinhas que só servem para aumentar o mistério.

Emo Philips
- Quando eu era criança, rezava todas as noites pedindo uma bicicleta.
-Mas... acho que não funciona bem assim.
-É, foi o que eu descobri.  Então roubei uma bicicleta e agora rezo todas as noites por perdão.

terça-feira, 11 de novembro de 2008



[Foto: Carrie Sandoval]

- Queria que você não superexigisse de mim. Eu também acabei de chegar, e as coisas já eram assim há tempos... Como você queria que eu entendesse isso tudo?

- É que você não pode me levar a mal... essas perguntas existem desde que eu existo e sempre vão existir.  Mas só você pode dizer qual é a resposta que o seu contexto te dá para elas.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008


[photo: Martin Kovalik]

- My love wears forbidden colors.
- How come?
- That's just my guess, they're a secret for me as well.


[foto: Alena]


- Virei para o lado e não vi mais ninguém. É que eu tenho uma multidão em mim que corre para todos os lados achando que sabe o que deve fazer, e sempre se perdendo.

- Mas então você não está sozinha...

- Estou sim.  Eu posso ter um microcosmos dentro de mim, mas ele é tão solitário quanto qualquer outro conjunto de muitas coisas.


Quanta pretensão...


- Como assim você foi uma pessoa terrível ontem?

- Ai, sabe aquelas viradas que algumas histórias têm em que você pensa, quando ouve, vê ou lê:  "nossa, como isso foi forçado... tá na cara que esse personagem nunca faria isso.  O autor só escreveu assim para acontecer essa outra coisa boa na frente"

- Você está em que parte, agora?  Já aconteceu a "alguma coisa boa na frente"?

- Ahm... Não sei, acho que não.

- Então é melhor não tentar entender o autor ainda... 


sábado, 8 de novembro de 2008




- Tenho alguns segredos guardados bastante parecidos com a estupidez.
- Por que você perdeu a esperança no diálogo?
- É que é uma pena, mas eu acho que não vai funcionar.  Um diálogo só funciona se as duas partes estiverem dispostas a mudar.


- E o que você acha da esperança?
- Acho que, se você acredita que amanhã vai ser melhor, dá para viver bem melhor o dia de hoje.


sexta-feira, 7 de novembro de 2008


- Congrats, boy!
- Oh, thanks!  In dreams we trust.


terça-feira, 4 de novembro de 2008

quem foi que mexeu nas minhas correntes?


- Adoro ir ao cinema!
- Eu também.
- Pelo menos lá a gente já entra sabendo que as verdades são inventadas.


segunda-feira, 3 de novembro de 2008


[Foto: Félix Berguins.  Cinelândia no dia 31 de outubro.]

- A revolução não é minha namorada...
- ...mas sempre que ela quer vocês se encontram, né?

[Foto: Alisson Brady]

- A revolução não é sua namorada?
- Não, ela me sufoca, me prende, me machuca.
- ...e você gosta.

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008


Kundera e Calvino conversando




- Vai ver o peso da vida está em toda forma de opressão. Vai ver na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável. 
- Para alguém ter percebido isso, deve ser porque a inteligência escapa à condenação.