Quando Dandi viu sangue na parte de trás do seu trator, em que ela costuma sentar para telefonar para as crianças e olhar a distância entre o sol e a montanha zebrada, pensou rápido será que o meu absorvente vazou? Mas refez mentalmente o seu trajeto no dia e percebeu que era impossível; além disso, era sangue demais mesmo pra ela.
Então olhou em volta já com o coração apertado. Será que tinha atropelado alguém? Refazia aflita e ainda mais rápido o trajeto mental, agora do seu trator, procurando grito, gemido ou suspiro, na memória, que pudesse dar pista.
Olhava em volta, mas o coração disparava tanto que não via nada: na floresta tudo se camufla para a vista já querendo cansar da mamãe.
Foi só então que viu. Subiu no capô do trator, por impulso, e refez, com o olhar, agora aterrorizado, o traçado da enorme linha sinuosa e escamada, quase perfeitamente camuflada. Diziam que tinha mais de 150 anos, diziam que pesava mais de 200 quilos, mas o que Dandi sabia era que a lendária cobra zebrada, que tinha salvado a vida da sua filha do meio uma vez, estava agora com a cabeça esmagada embaixo do seu trator.
Sem pensar mais, cortou a pontinha do rabo da cobra zebrada, o estoque do seu veneno, correu pra casa com o peito formigando e, antes de enfartar, disse para as crianças: o veneno que salvou Shimara é agora a memória da sua mãe.