terça-feira, 27 de dezembro de 2011


- Além tudo disso, a gente quer ser força em caminho do tempo; o que é também papel esquisito. e acontece, quando esticamos olhos para fora depois de intervalo mais longo, que a paisagem já mudou;


- (...) Só que o que passa voando só passa porque só pode ser assim. Por isto e apesar, cresce outro esquisito: a sensação de que seguimos para fora de caminho nosso ou de entrarmos em viela estrangeira. 


- (...) Até um dia, que surge urgente: desembarcar! saltar!  ânsia de pare, que é se deixar perder em mar só, pra só assim chegar em terra.

[diego gravinese]

 Está posto marinheiro-caminho: ii) atolar e ver, i) ansiar um ponto antes, iii) refixar (estrela) e refundar (terra).  Depois secar os pés ao sol.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

no escuro do quarto, algum silêncio. a rua está muda.

num de novo, volto ao mato.
por todos os poros ordem outra porejo,
e a verdade entoa ao então:
não-mais ver luz elétrica, ver só verão.

no então, realeza recolhe o confuso. confia e conforta.
anima e refia, e dá mama.
brilha aí beleza alheia, sem parede porque despórica,
sem caminho porque sem troca, só agora e agora outra vez.

natureza fruta, abunda, e nega labirinto,
o que é pró e epi negar a Métis.
"fundamental é que a vida continua", ela diz.
"mas alma esquece porque esquece", continua.
então fiat-constrói e, num de novo, alma se perde.

"é que natural é viver humanamente", rediz,
porque sabe pró e epi dizer ao humano.
mas de cima pra baixo, como é natural,
e complacentemente, como é divino.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sobre o irreversível do verso



É que o ser sensível é ser inexplicável, irreferível, diria Maiakóvski, mas disse Platão. Então não há que ver palavra, mas ser-palavra, constrangendo, forçando, procurando o imutante do informe.

Nisso é que qualquer verso vira perversão do já ser: inédito no jogo, limite entre vir-a-ser e nunca-tornar.


In the ancient struggle of breath against death, palavras-asas.



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

a madrugadas acordo
na hora do lobo


meia luz é luz branca
tanto tempo passou
e desintuí a dormir


mal e mal vejo pele
estrangeira, minha
e nenhum passo.


imóvel, amarrada,
não-dito, não-vou,
não sei.


não guardei rascunho,
joguei fora a cópia.
aperto os olhos
devagar, de sono:
um resto de mosaico
sobrevive.


estou aqui, 
então devo comer,
minha neta me falou.
[1989, Wim Wenders,  
Identidade nós mesmos,
Notebook on cities and clothes]

domingo, 27 de novembro de 2011

Prometeu acorrentado


 [Jochen Schievink]
Eu olho as pessoas, parecidas e diferentes, eu olho e pergunto quais são as perguntas.

É aí, eu sei, que um bom amigo vai me responder "vai, amor, pode escolher qualquer ponto na superfície da esfera, depois é só andar para frente. é aí o sem-ansiedade, é aí que você não precisa escolher o ponto de partida para chegar no coração da esfera".

Então "para frente", repito na verdade perguntando pra mim, "para frente agora é para que lado?"

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

violência treme-terra da gratuidade 



ou: pio imperativo cor é amor pelo animperativo fala

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

ADIV, PRESENTE DOS DEUSES À CIDADE


A. se deixou ultrapassar, então, depois do relance pelo velho morimbundo e acre. Mas o súbito compenetrou. E foi no olhando para o passos-curtos que viu o espanto do espelho. Abriu a boca e sentiu a membrana vermelha, úmida e morna que exalava dos lábios, como se não contivesse em si todo o múltiplo que carregava. A. não se lembrava de ter um dia estado tão parado, tão sem movimento quanto quando olhando para o velho vagar.

Estático corpo era, ainda, convulsão de sinapses:
aonde ele vai? por onde ele vai? por quê?  quem está lá? como é por lá? lá o quê? todos vamos um dia? qual é o dia? cadê? por qual caminho? é ciclo sozinho? de quê? é igual pro mundo? é mesmo prum só? por quê?  diferente para quem? é nada-ninguém? sem o quê?  escolhe ir ou não? escolhe ir-voltar? escolhe saber? se sabe é pra todos? escolhe por todos? e o quê? 
A. sentiu um movimento vagar pelas pernas. Olhou para baixo: enrugavam-se. Sorriu. Soltou ar da boca:
 acre.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Naquele dia, reli o que tinha escrito e me transformei por alguns instantes no leitor desconfiado que geralmente sou. Ser desconfiada nunca me tinha feito leitora de coisa minha. Sempre vi o meu como cheiro de pele própria, coisa de que não se sente o cheiro. Ou ainda: nunca como nessa releitura me senti tão estrangeira.


Que desagradável pode ser olhar-se de longe. 

domingo, 30 de outubro de 2011

pio animperativo da fala é "rara hora et pauca mora"

questão de tempo,
não só.
questão de ser-estar 

(bem-esperando 
               inesperado)

questão dinsistir 
e pacientar. 
tudo é interminável.



                                                                                                                                                         [Kate MacDowell]

sábado, 22 de outubro de 2011

um outro uso da analogia alma-cidade ou "só repara no prazer que isto causa"

terça-feira, 18 de outubro de 2011

É que pesar e medir com a lógica desse mundo, diria Jesus, mas disse Leminski, é loucura.

Disso, remoo na dificuldade em estudar. Estudar: pensar sistemático, dependente, a mão que dói de apertar tão forte a muleta.

Mas pior, mundo pior porque mais assustador: será que eu conseguiria estudar selvagem, estudar como todo pensar voraz; feito inteiro atacando pelos lados que vão tão-somente aparecerendo no caminho, arbitrário mesmo: ataque completo e confiante naquilo, só naquilo, e só, só porque apareceu antes; mas por urgência, que diz prazer, urgência de ter percebido uma questão;
isto tanto porque é também pensar feito poesia: finalidade nada e para ninguém.

Estudar é difícil. É difícil porque é obrigação.


[Clara entra. Lê devagarzinho como quem está orgulhosa de já saber ler: Êeestudar é difííicil. Ééé diiifícil pooorqueee ééé obriiigaaação. Para por dois segundos, o que na flor dos seus 6 anos, é mormente incomum, e diz, "é mesmo". Dito assim é quase persuasivo de verdade.]

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

sobre a ilógica padrão dos nossos muitos movimentos ou "obstinada tentativa de generosidade é generosa?"


in search ex machina: 
ensimesmado, inestuprável, pensável, intransponível, completo e redondo

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"reflex-re-invocação da amplidão imendiga"



amo afável e completo
sonho sem dedo apontado,
só assim eu sei.

queria que me sonhassem
esse assim, dentro de som 
que eu entenda.

se eu não entendo outros sons
eles continuam existindo?
pode ser, deve bem ser.

mas não me dá vontade de sonhar.
bem-entendido: moldar não é problema, mas se for por coisa bela.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

só de saudades da vida azul e branca do livro da face

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

                                                                                                  por porta aporta ou "entre os frisos da chave"  

[Malika Favre]


No acaso e no sem plano, estava dia 11 com a quase-família, proseando a tarde clara. É que a irmã da amiga está se separando, e ela diz, com o olhar úmido do tom desfibrilado:

"quando escuto o suposto ladrão atrás 
da porta, escuto a sua respiração através 
da fechadura. esta respiração é a minha. 
mas o ladrão que eu não escuto é o mais temível".

Quase entendo. Mas não antes do sorriso doce da avó, que afaga e cumplicia "ô, anjinho. não-não, isso não é companhia."

terça-feira, 13 de setembro de 2011

E o sacro-secreto de novo em-x-posição ou "a gravidez do sempre-retorno":


É coisa de origem errante e naturezironia:
ilusa de desejo anti-antes,
luzia de insaber pró-sorria.

[Jean-Baptiste Mondino]
E quando o sol dilatar, 
dar à luz
système des beaux-arts

segunda-feira, 12 de setembro de 2011


Meu 22º 6/9. Falei superabundância e dei um beijo na vida.  Pronto, pronto, o dia já re-amanheceu.

a liberdade de não esperar correspondência ou "gargalhada imendiga dos deuses-amplidão"


[chris frazer smith invertido]

nasci em tempos de pouco correio, posso ir à praia sem ansiedade.
o mar alegra a alma
 ele é, como ela, 
aspiração infinit-impotente, 
élan rompido e quedas, 
lamento eterno e doce.

é também o único céu 
em que sabemos mergulhar

domingo, 11 de setembro de 2011

umbigos em descompasso olhar-palavra ou "obstinadamente"


o erro produzirá o erro
relógio
por que quereria alma minha na cama?
artifício é a natureza humana
fabricação do desejo
messiânico ou mítico?
fascínio-devoção
circular 
.
ou sagital
ou que corpo nos assuntos da língua?
são palavras-línguas
cheiro estrangeiro, binário
úmidas, ásperas 
não me lembro mais 
e deleitosas
da melodia do refrão.


existe saída do sonho?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

E então acordei de manhã nova prum novo dia.
Novo como toda coisa que pressupõe um fim, algum fim.

Não, não novo que diga outra origem.
Mas também não novo que diga paz.
Novo irrequieto, novo como o silêncio entre as balas do canhão.
Novo porque me espera a mim, que chego tarde na história que eu mesma vivi.

Inevitavelmente tarde, ocupada antes com o fio desconfioso de tecer.
Quase desejavelmente tarde, ainda tarde como só haveria de ser.
Disto-e-pra-isto, tarde bem entendido; tarde, e não atrasada.
Tarde é, então, agora: é o escrúpulo que julga o passado.

Tarde é a minha alma autor-personagem vindo me visitar, irritada.
Alma minha que julga, alma indiferente ao que reconhece ter sido desejo.
Alma persuasível pelo metro, toda contenção.

Alma que olha a espera dos carros no cruzamento, um na companhia do outro para nunca mais se verem; e diz:
"as yes is to if, love is to yes: nothing false and possible is love"

domingo, 4 de setembro de 2011

quanto mais nova a flor do lácio melhor ou "a realidade maternal da língua"

Vermelho-vermelha, vermelho, cheia de cores. De repente amarelo e o "ah" que suspira epimeteudendo de novo. O riso amarelo diz vergonha sensível dinvisível, todo misturado. Mas também é amarelo luneta-microscópica, amarelo auditor da injustiça do metro, que é tão-somente servo do amarelo vira-verde.  Enraizadamente matriótico e bom. E o presente é, então, Prometeicontido: amarelo encarnado é redondo: é sol: é vermelho.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

14 x 9, ou "no calor da forma, soma encarnecida dantecipada presença"

[Santiago Salvador, natural de Santiago, no Chile]

mas, de novo, esqueci de dizer com palavra.
palavra, sempre palavra.

foi aí que que ela respondeu "tenho medo, e os seus olhos me dizem o que eu digo achar de mim"
disso, só entendi desconfiança. mas, na lentidão-anticlímax dos sonhos, engoli a confusão.
só já dentro do metrô, acordando, lembrei do óbvio dos olhos:
 "não-não, existe hermenêutica (até) da interpretação.
e não era nada disso

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Na confusão pouco movimenfractal da forma, ou "música é poeira das Musas"

[ignacio torres]

Era ontem mesmo quando eu quase acreditei no exílio dos deuses.

Ouvia uma música querendo outra.
Foi disso que veio a pulga. Não da camada toda-espessa de nuvens, nem do ar frio-abafado. Não.
Se eu quisesse, teria visto neles mais poder afável do que morimbundice.
Foi definitivamente porque eu ouvia uma música querendo outra.
Do definitivamente, seguiu:
 a convicção daninhamente instalada de que eu nunca amei os deuses virou silêncio.
E silêncio, ah, silêncio.
Outro jeito de dizer espera pelas Musas.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sobre o mundo que espantaria o nosso Fédon ou "outro extremo insano da linha"



sábado, 20 de agosto de 2011

Rouge.

Oui, c'est ça, c'est une membrane rouge. Membrane dont la vibration, frottant entre raison et folie, fait comprendre la douleur de la distance, douleur de peau-solitude.

De l'éparpillement, oui, encore, de l'éparpillement.

Tic tac, pas avant, pas arrière, la douleur on la sens le présent:
tó on tó on:
être là
(entièrement dans la membrane)

Encore tic, encore tac.
Elle n'est pas méchante, cette douleur. Tout objet la connait. Oui, oui, tu sais, un objet qui ne se bouge pas pourrait bien bouger: il suffirait que les millards d'électrons qui le composent soient allés vers la même direction.
Mais non, d'habitude chacun se bouge au hasard; chacun se bouge en annulant du même coup la force des autres.

C'est cela la fantasie, l'utopie, l'improbabilité très très douce: c'est n'attendre qu'un seul mouvement.
C'est cela le sexe.

Oui, encore, c'est cela le rêve.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Marcher. Mettre un pas devant l'autre. Longtemps j'ai cru que cela consistait à trouver des réponses. Même si on aime Socrate, on veut des réponses. Une réponse: un pas; une autre réponse: un autre pas.

Puis, j'ai découvert les questions-promenades.
Et Socrate a été généreux à mon égard:
"ti estin ce jardin?"

Maintenant le chemin change,
mais un chemin qui traverse des paysages multiples s'écrit toujours au singulier

Maintenant je n'ai plus de bouche pour crier.
Alors, le silence du crayon contre le papier:
"A quoi appartiens-tu?"




sexta-feira, 29 de julho de 2011

antithèses ou "l'attente qui sourit nerveuse"


Rouge, rouge, pleine des couleurs. Mais, du coup, le jaune et le -ha!- sans joie. Le rire jaune rit de ce qui on ne sait pas est-ce qu'on veut; jaune si jaune de vouloir voir ce qui n'est pas bon: c'est le rire éthique. Le rire jaune rit de ce que n'est pas vrai; rit du rire bleu ou rose, fictives tous les deux, je me demande. C'est le rire judiciaire, je me demande. Pas bon! Pas vrai! Enfin! Mais le rire sans joie c'est le rire noétique, sans refrain et - ha! - comme ça, c'est le rire des rires, le rire qui rit du rire, hommage ébahi à la plaisanterie suprême. Bref le rire que rit - silence s'il vous plaît - de ce qui a bonheur malheureux.

domingo, 10 de julho de 2011

o desconforto com algum desconforto ou "quatro dias depois do check-in"



[rajni perera]
Et, encore,
il revient, le refrain:
est-elle vers l'extérieur,
la communication?

...ce qu'elle nous demande, c'est le courage.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O imperfeito do perfeito é o mais que perfeito.
Sobre a desconfiança de que os gramáticos são um pouco poetas.


Diz Guida Nedda Barata Parreiras Horta no seu Curso de iniciação à cultura helênica, p.153:
O mais que perfeito não corresponde exatamente ao nosso tempo de mesmo nome, sendo uma espécie de 'imperfeito do perfeito', indicando o estado resultante da ação anterior.

quarta-feira, 22 de junho de 2011



del amarillo al rojo al verde,
peregrinación hacia las claridades,
La palabra se asoma a remolinos
Azules.
           Gira al anillo beodo,
Giran los cinco sentidos
Alrededor de la amatista
Ensimismada.
           Traslubramiento:  Paz




[hana pesut]

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Oito tempos ou "verticalmente infinito"

[Andrea Wan]

e 5,6, e 7,8
dança cosmos, movimento 
em-xposição do ritmo:
preciso marcapasso,
em rotação dia-a-dia.
e eu, e você 
desistente maratona, 
prum novidade triatlo,
ora me perdi em-spaço:
e vivo taquicardia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

extasiada-êxtase ou "hunger and repletion" in the close-foreign land of Paradoxo do Desejo

[iain macarthur]

I know to follow while I flee my fire
I freeze when present; when absent, hot is my desire.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

perfeição da maria-sem-vergonha ou "sobre a sobrevivência da obra"


Mas eu
não morro
nunca
e eternamente
busco
e consigo
a perfeição
das coisas
porque sou
ateniense
e sou grega



Sete Rios 
Entre Campos, 
Adília Lopes
in Dobra - 
Poesia Reunida
Assírio & Alvim, 
Lisboa: 2009

[Anthony Christian]

quarta-feira, 25 de maio de 2011

câmera subjetiva ou "sono-vigília"
A imagem é sempre mais do que aquilo que ela anuncia porque é antinatural.
ela concluiu.
E, nesse fio de momento, éramos contemporâneas. Sem jamais voltar a ser.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sobre o sonho do grande Alexandre ou "como o Google é a obra de arte do nosso tempo"


[Louise Elisabeth Vigée-Lebrun e Google Imperial Project]

tudo múltiplo sob o um.
é que o cotidiano é na poeira, para todos-nós.
verve do tempo
através do espaço:
única solução
de contínuo crasso.

terça-feira, 17 de maio de 2011

outro assunto ou "sobre a firmeza calada do mármore"

[banksy]


somos povos inteiros, cada um; sensíveis a coisas diversas, cada um; em guerra particular, cada um.
em 
guerra-contra-dição.

Vamos, voz, 
chegou a sua vez. 
Diga aí, agora, 
Quem é você?

ressoa, então, o dominador:  
quantas vezes é preciso morrer de novo antes de acabar?
Somos insensatos em coisas diversas, cada um.

Eu? Eu mesma não sou.
Expresso apenas 
carnalidade imaculada:
a sua, a das carnes 
e a das flores.


[amigo-Amparo, Pedro Henrique]

The
Mind is per se, they say.
I say "mind the vain".

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Inter faeces et urinam nascimur,
o deus disse.

 [a portrait of the artist as a young man]


Espantosa sexualidade
de todo ser vivo:
refeito em coito,
feito em mênstruos e abortos.

Amar é o preço de viver.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

sobre a condescendência abstrata da medicina ou "it takes science structure to make of the unconcrete, unreal"

[the escher graphin' group]

- You might very well have the Abstract Longing type of love bug.
- So I've been told. But I'd diagnost the diagnosis as mis-semantics.

sábado, 7 de maio de 2011

[sonya fu]
Iugoslávia


e, com toda a sensação
fim-desconcertante num filme
-aqueles que terminam com vírgulas-
recai o refrão:
é preciso se adaptar à solidão?

ou ainda, ao contrário:
não há que se adaptar a nada,
simplesmente não há comunicação.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"prova ontológica" ou descartes está me afetando pela culatra

Criança e achava que "morar embaixo do viaduto" era metáfora. 

Isto se explica: mais nova ainda, minha mãe perguntou se eu gostaria que a gente tivesse uma casa na praia. Como rosto translúcido de criança mostra rápido toda a confusão, mamãe compreendeu os sofás e tapetes em cima da areia que estavam aparecendo na imaginação da criança. Então ela riu de que-gracinha e me explicou que era uma espécie de linguagem figurada, o que ela tinha dito, e servia para encurtar o que já estava subentendido. Disse, depois, que existia coisa mais radical ainda que chamava "metáfora", e isso sim dava em coisas absurdas-mais-ou-menos.

[adam ek berg]

Achei bonita, a palavra.

Eis que, então, se falavam sobre "morar embaixo do viaduto", eu entendia  "praticamente embaixo": num prédio-ou-casa muito perto de um viaduto. Ou ainda, morar em lugar ruim.

E, sendo criança no Rio de Janeiro, é claro que os olhos passaram por algum viaduto habitado eventualmente, mas eles nunca se sintonizaram com a possibilidade desse absurdo-outro-mundo antes; logo, nunca tinham reparado nisso até os meus 7 anos.

Até os meus sete anos, disse. É, chegou o pequeno clímax da história, o desanuviamento no encontro avassalador:  Sim, havia pessoas do outro lado do vidro do carro; e sofás; e cadeiras e cartola, e mais muito-muito lixo. E tudo isso embaixo da estrutura de concreto que leva carros por cima das ruas. Sim, realmente embaixo-do-viaduto.

Depois disso, nunca duvidei da realidade extensa das imagens.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

sobre a guerra civil

[óleo-difusão da Margarita Georgiadis - The Dust Weavers]

e ela tinha olhos de catarata, todos nostagia.
médico-sem-fronteiras diz que é doença, acho que é medo de enxergar.

vai que medo diz intuição?
 não se deve ver mais do que se deve.

terça-feira, 3 de maio de 2011


cansada demais para dormir,
e minutos-horas no escuro da cama

tento pensar em belezas poucas,
mas me anoja, meu otimismo:
são imagens feias, de mesquin-magras.

hesitei no vir-dizer isso,
mas me acalma:
reconhecer é mais em ser.



[austin power] 

quinta-feira, 21 de abril de 2011

quando era criança e trabalhava na roça, acontecia dela sentir um poema vindo pelo horizonte. era um trem de ar, relampejando. e, quando ela sentia aproximar, só tinha uma coisa a fazer: correr feito o diabo.  E correndo, perseguindo enquanto era perseguida pelo poema, o que ela precisava era chegar na casa:  pedaço de papel e lápis, rápido, pro poema poder relampejar no escrito.
mas tinham outras inda vezes: ela corria, e caia, e corria, mas o poema passava por ela e continuava até o horizonte, procurando outro poeta.
só que o melhor eram os quase perdidos: ela pegava o lápis no momento depois do justo, quando o poema já passava pra fora. então a outra mão vinha ajudar: pegava o doido pela cauda e puxava do avesso, como fosse, pra volta dela.
aí era que era o curioso: o poema vinha perfeito e intacto, mas da última palavra pra primeira.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"who's watching who?" matters


[jamie beck]

in the ancient struggle of breath against death, one more sleep given.
esquizofrenia dos sentidos


[bailarina horário-anti-horário
[[sem a discussão meio-chata sobre os lados do cérebro]]

Seria fácil e bom, se fosse assim agora.
Seria  bom, já tivesse sido agora?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

prazerinsanto ou "o fim da guerra fria"

[sensa-amado Clovis Trouille]

"Somos herança, meu amor. Alma indivisa de sofrência determinação"
"À completa devoção"

enquanto
 dúvida fresta
 espia à esquerda

terça-feira, 12 de abril de 2011


[sim, estão traduzidas pro inglês, mas são de Minas]

A perfeição era só:
sólidos platônicos
são cinco.

Então o astrônomo
errou, e descobriu:
significa a dualidade.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

uma história da queda lenta

Foi antes o muito amassado no carro,
depois a mancha quase rosa no chão.


Mas só quando o plástico preto que cobria um corpo alto me apareceu do lado
é que o coração apertou.
E o dia foi não dando certo pouco a pouco:
fracassos cotidianos do lado dos tragedilouqüentes.


Mas no bendi das 15h33,
um cachorro morimbundo me apareceu pra mostrar:
não convém ignorar maus agouros.

Foi antes o muito amassado no carro, depois a mancha quase rosa no chão.
Mas só o plástico preto em cima do corpo alto-deitado é que apertou nó o coração.

E o dia foi não dando certo pouco a pouco: fracassos cotidianos do lado dos tragedilouqüentes.

Foi aí que, às 15h33, o cachorro morimbundo apareceu para granjear: não convém ignorar agouros,
não sempre.

quarta-feira, 30 de março de 2011

jogo preso ou "a revanche contra o tempo"


[chema madoz]

- It's as if I'm scared, it's as if I'm terified.
- ...it's about to get good.
Divido um copo d'água com o toco do que foi a minha palmeira imperial; é um desses prazeres santos.
Lavo toda a sua extensão, recoloco as pedras e me finjo só natureza, que é pra pertencer a esse lugar-amplidão.
Nunca
para negar
também ser nómos-cidade

realeza só relembra a carne:
não é um totalmente,
o motivo da ansiedade